sábado, 28 de junho de 2014

Soul and heart.



Quando pequena eu amava brincar de caça ao tesouro, estávamos no final da década de 80, época em que o garimpo bombava, e eu com frequência ia ao centro da cidade de Boa Vista/RR com a minha mãe na tão famosa rua do ouro.

 No clímax da brincadeira imaginária, a garimpeira aqui encontrava as maiores pepitas já vistas e - surpresa! - os indígenas chegavam com arcos e flechas! 

Então eu manifestava euforia e logo dizia: - Olá, o que temos de bom pra hoje? Ao que o pajé respondia: "Os diamantes, o ouro e você!!! "

Eu nunca gostei de brincar de bonecas - preferia viajar na minha imaginação, lá haviam extraterrestres, monstros, bruxas, dragões,  super heróis e princesas com super poderes. Eu sempre fui mandona, impaciente, calada e geniosa -  Como uma boa filha única - me frustrava com o comportamento das outras crianças, tadinhas, tão "'normais!"

 Eu era bastante popular na escola, me achava feia, mas era considerada atraente e fazia um sucesso danado com os meninos, deixando algumas meninas ácidas comigo, acabava então excluída por elas.
 Continuo sem sorte com as meninas, tenho poucas amigas mas todas incrivelmente maravilhosas..
Enfim, isolada findava eu com poucas, mas verdadeiras amigas e rodeada de meninos, jogando futebol, brincando de cemitério etc.
Costumava brincar de mulher maravilha, fazia uma mistura com extraterrestres e lá não me sentia diferente, nem excluída pelas meninas ricas da escola - eu era segura, corajosa e desenrolada, embora perdida! 
Cresci e o meu habitat natural eram os livros, perfeito para uma menina que adorava aventuras e histórias impossíveis. 
Amava ler todos aqueles livretos com histórias incríveis e outras nem tão - me transportava para cada uma delas e viajava em todas as histórias como parte dela e sempre como a personagem que seria a peça chave no fim. Era ali que eu conseguia fugir de um pesadelo bem real que começou aos 4 anos e só acabou aos 13, mas isso fica pra um outro dia.

Decidi que seria dentista bem cedo, mas também escritora, artista, cantora. Profissões que eu achava que combinava com a mulher que eu me tornaria: útil, livre e de gênio forte. Aos 11 anos já comecei a escrever em diários, e até hoje, se estou sentindo solidão me bastam nas mãos lápis e papel para que eu me torne o que quiser, viajo para todos os lugares do planeta assim.
 O amor me inspira a escrever, a tristeza, a alegria, a dor, a decepção, a felicidade, a família, tudo é motivo de inspiração pra mim.
 Transformo tudo em palavras, em poesia e fico a salvo se tenho lápis e papel. 

Gosto da solidão as vezes, prefiro tê-la do que me conformar com uma companhia que nada me acrescenta, o pouco não me satisfaz e a minha vida não é um desperdício! 

Até hoje vivo tudo intensamente, do amor a dor, sou intensa, visceral, sexual e cada um tem de mim o que cativa. 
Passei alguns anos presa em uma bolha, isso - a bolha que eu permiti que criassem pra mim. A bolha que você quando passa um tempo por aqui e começa a achar que, enfim...

Nesse tempo tudo na minha vida se potencializou, a dor, a mentira, o menor e o maior deslize, as traições, o sexo, a tensão, o melhor sorriso e o maior amor. Há algum tempo essa bolha estourou , eu me apavorava sempre ao pensar nessa possibilidade, faltava o ar, medo de não me localizar, de não dar conta de sobreviver, ficar vulnerável e me perder, embora perdida já estivesse, sem me dar conta. Mas, pasmem, o pânico se transformou em entusiasmo, as atitudes do outro me fizeram enxergar tudo que sou, tudo que mereço e a minha vida não mais será desperdiçada com tão pouco. 
Estive presa, trancada e de castigo em um só lugar, lá o espelho estava quebrado e ao me ver refletia pedaços, estilhaços de uma bela mulher, que passeava nos pensamentos e sonhos de homens, mulheres, curiosos. Ela apavora. Seduz. 
Até que uma simples imagem a congelou. O que ela mais temia diante de seus olhos, estranho porque mesmo as coisas que ele dizia não achar graça alguma estavam revestidas pelo fascínio da novidade.

Ao ver aquela imagem meu coração congelou, senti que foi arrancado de mim com unhas enormes e pontiagudas num movimento único de rotação - fui exposta ao meu medo mais profundo e no outro dia sentia uma dor absurda no corpo todo;  aquilo não podia estar acontecendo porque eu jamais saberia perdoar ou conviver com aquele fato, a imagem estava fresca e bastava fechar os olhos para que se materializasse diante de mim como um pesadelo.

 Eu continuava a ser a princesa das minhas brincadeiras de infância, mas agora sem os super poderes. Eu acho que sempre tive sorte, apesar de uma infância difícil e experiências muito ruins, muito pouca coisa deu errado na minha vida. 
Passei os dias seguintes pensativa e senti grande alívio ao pensar que logo sairia daquela casa, pois tudo mergulhava no silêncio e na escuridão, a tristeza era tanta que eu mal conseguia respirar e sofria com uma intensidade desconcertante, a minha vida não é um desperdício, sempre me dizia isso- mas a verdade é que as horas, meses ou anos que fui feliz foram momentos de pura magia e eu nunca os trocaria por nenhuma outra aventura, não há lugar e  nem pessoas que eu preferisse ter conhecido, mas também a dor, as mentiras e humilhações não valiam esses momentos jamais! 

Às vezes quando pensava em todos os acontecimentos sentia uma dor obscura em alguma parte primal de mim, e se estava só em casa ouvia os sons que produzia. Sons que eu nunca tinha emitido antes.
O meu coração mais cedo ou mais tarde será ocupado, sou criteriosa e muito exigente, não aceito viver de aparências e ter uma vida verdadeiramente feliz é algo que não abro mão, até que chegue vou viver, sorrir, me apaixonar, porque a minha vida jamais será um desperdício outra vez e eu não me contento com pouco. Minhas atitudes jamais serão baseadas nas atitudes do outro, minha vida e meu tempo são preciosos demais p isso, o que vou levar daqui não tem preço. 
A solidão só dá lugar ao amor, aquele de verdade, senão eu mesma insisto na solidão que nem sempre é ruim! 

Eu me transformei na "princesa sem poderes" machucada, mas na maior parte do tempo eu tenho a impressão de que tudo está bem, e como a vida sempre vem e surpreende, agora Deus está dando lugar às coisas e lindas pessoas, Ele é livre para fazer de nós o que bem quiser. E eu sou GRATA, sou alma e coração. 💛

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sou dona da minha própria história e, chegou a hora de transformar todos os meus medos em riso. Nada vale a pena sem amor. Absolutamente nada.

Jaqueline Oliveira