sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Felicidade...


Das vezes em que me vi amando,
era feliz.

No desamor, porém, não soube dizer
se era feliz ou infeliz.

Quando voltei a amar,
a dúvida era a mesma até a prova última.

Mas, aí já estava noutro amor...

E era (ou me dizia) feliz...

Aí veio a contraprova do amor...

Todos os sonoros nãos,
todos os mal-entendidos,
todos as portas batidas na cara,
tornaram-me um infeliz incurável...

E foi numa porta que a vi,
meio escondida a me olhar enquanto cozinhava...

Felicidade, então, é um torpor, um estremecimento,
com prazo de validade,
atestado de bom comportamento,
admissão durante o estágio de 3 meses,
e demissão sumária, caso desagravo...

Não exige-se certidão de óbito
que comprove o fim do amor,
nem indenização por tempo de serviço
ou demais protocolos dispensáveis...

Apenas comprove-se capaz de doar felicidade,
Ainda que temporária, contudo
I N C O N D I C I O N A L M E N T E!

Um comentário:

Francisco A. Gomes disse...

Olá, belo texto senhorita...É de sua auotoria? Expressa muito bem um forma de pensar peculiar, particular e ao mesmo tempo tão coletivo...Uma realidade de um e de todos.

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

(Carlos Drummond de Andrade)

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